Sorrisos de crianças, cotidiano de mulheres e trabalhadores como “soldados urbanos”. As lembranças do dia a dia em Angola foram transformadas em pinturas que têm como marca o traço fino contrastado pelas cores fortes do artista plástico, poeta e cineasta Paulo Chavonga, de 25 anos.
As 60 obras de “Onde o Arco-Íris se Esconde”, expostas no Museu da Imigração, trazem sensibilidade, história, cultura e, também, crítica social sobre o país em que Chavonga viveu até 2017, quando se mudou para o Brasil.
O arco-íris que dá título à mostra, diz Chavonga, pode remeter a muita coisa, “tanto às próprias cores em si quanto ao laço que se estende do Brasil até Angola, com seu reflexo serpenteado no mar”.
O visitante, ao chegar, dá de cara com um mapa do país africano. Na sequência, pinturas de crianças sorrindo. “Queria trazer essa leveza. De antemão, as pessoas já sabem de que se trata, de que contexto se trata.”
Outra marca da exposição é a série sobre trabalho que, segundo o artista, é uma forma de afeto para com os imigrantes africanos. “O trabalho ajuda essas pessoas a se conectarem e também é uma forma de driblar um sistema que as mantêm refém. Porque o trabalho te deixa, de alguma forma, mais independente.”
E complementa: “É uma forma de a gente conseguir dignidade sem estar ligado a instituições que nos mantêm refém nessa ajuda e vão perpetuando estereótipos problemáticos. Então eu falo muito disso e de alguma forma também escancaro, nesse trabalho, a desigualdade social no meu país”.
Mas sempre com muitas cores. “O arco-íris talvez não se esconda apenas nas cores, mas nas histórias dessas pessoas, né? Dizendo que o arco-íris, em todas as suas formas e significados, pode estar vivo nesse cenário, nesse cotidiano dessas pessoas. E traz também um olhar de humanidade”, acredita Chavonga.
Ele pontua que as crianças retratadas estão em um cenário. Do outro lado do Oceano Atlântico, em Angola, “onde se espera que elas sejam tristes”. Mas elas estão distribuindo sorrisos, brincando. “Quando eu pinto essas cores nesse cotidiano angolano, elas estão sempre com um fundo colorido justamente para, em contradição com aquilo que a mídia passa sobre continente africano, desafiar uma realidade complexa.”
Para focar no aspecto humanista da mostra, o artista conta sua própria história com fotos de sua família em Angola. “Todo imigrante tem uma história e uma memória. Quero criar um olhar humano entre o brasileiro e o imigrante africano. Quero dar voz aos africanos. A mostra reúne também denúncias de xenofobia e racismo, o que tem levado à migração reversa, onde os imigrantes africanos saem do Brasil para outros países ou mesmo para retornarem para sua terra natal”, explica o artista.
A exposição integra 60 pinturas, uma instalação que reproduz uma barraca de venda de tecidos da Praça da República, dois vídeos e doze poemas.
SERVIÇO:
“Onde o Arco-Íris se Esconde”, de Paulo Chavonga, com curadoria de Luciara Ribeiro e expografia de Carmela Rocha e Sofia Gava
Onde: Museu da Imigração, na Rua Visconde de Parnaíba, 1.316, Mooca
Quando: até 29 de outubro; o museu funciona de terça a sábado, das 9h às 18h, e domingo, das 10h às 18h, com fechamento da bilheteria às 17h
Quanto: de R$ 5 (meia-entrada) a R$ 10 (inteira); grátis para crianças menores de 7 anos; aos sábados, a entrada é gratuita para todos